Economia brasileira não deve tolerar meta de inflação mais alta

Enquanto já se vai quase um mês desde o início dos ataques do governo ao Banco Central, seja à sua autonomia, ao patamar atual da taxa de juros ou ao próprio presidente da autarquia, a discussão que se escalda agora é a da possibilidade de alteração da meta de inflação para 2023.
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PorGustavo Maia - 10/02/2023
3 min de leitura

Na última quinta-feira, 9 de fevereiro, membros do governo comunicaram a intenção do governo em antecipar a discussão sobre a meta da inflação, normalmente realizada em junho, para a próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), em 16 de fevereiro. O propósito seria elevar a meta de inflação, que se encontra atualmente em 3,25% para 2023 e em 3% para os próximos dois anos, em linha com as demais economias emergentes.

Atualmente, o CMN é composto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. 

Regime de metas de inflação

O regime de metas para a inflação é amplamente adotado ao redor do mundo e vigora no Brasil desde 1999. O sistema consiste na definição de uma meta para a inflação pelo CMN para o período de três anos à frente, a fim de reduzir as incertezas e garantir maior estabilidade para a tomada de decisão dos indivíduos. Com a meta definida, cabe ao Banco Central agir e implementar medidas que assegurem o seu cumprimento para o ano em questão.

A importância da meta está em garantir transparência e informação entre as ações tomadas pela autoridade monetária e a sociedade, com o intuito de manter as expectativas ancoradas.

Qual a finalidade de elevar a meta?

O objetivo da medida é apaziguar as tensões entre o governo e a autoridade monetária, uma vez que Roberto Campos Neto sinalizou ser a favor da medida, e possibilitar a antecipação do corte na taxa de juros de referência do Bacen. No entanto, a alteração da meta seria um equívoco, além de inusitada, e não teria o efeito desejado.

O movimento, que pouco favorece o alcance da meta de inflação (de 3,25% para 3,50%), sinalizaria apenas intenção do governo em abrir mais espaço para gastos e levaria à uma perda do controle das expectativas de inflação. Somente os efeitos da discussão sobre a elevação da meta já têm sido sentidos na curva de juros, que também sinaliza que os juros devem permanecer no patamar atual pelos próximos 10 anos.

A desancoragem das expectativas, dada a percepção de que o governo é leniente com a inflação mais elevada, levaria a mais inflação no presente e à elevação do custo de redução da inflação no futuro.

Importância da ancoragem das expectativas

As expectativas sobre a inflação prospectiva são fundamentais para a definição da trajetória da inflação presente, uma vez que os indivíduos e os agentes do mercado reformulam suas decisões sobre consumo, poupança e investimentos de hoje a partir de suas percepções sobre o que pode vir a acontecer no futuro.

Se há espaço para uma inflação futura maior, como no caso da elevação da meta ainda no ano corrente, os preços tendem a subir.

Manter as expectativas bem ancoradas é essencial para, além de manter a inflação dentro da meta no horizonte relevante, assegurar a credibilidade da autoridade monetária e reduzir os custos de implícitos no combate às pressões inflacionárias.

Para ficar de olho

Por fim, outro teste que a economia brasileira enfrentará será a indicação do governo de dois novos diretores para o Banco Central, visto o término do mandato do diretor de Política Monetária, Bruno Serra, e do diretor de Fiscalização, Paulo Souza, no dia 28 de fevereiro.

São esperados, para as indicações, perfis divergentes do colegiado atual do Copom, que tem como característica maior aproximação com a ortodoxia e menor leniência com a inflação. As mudanças, apesar de a princípio não acarretarem grandes impactos, uma vez que ainda seriam minoria, também devem começar a afetar a curva de longo prazo, frente à deterioração das expectativas.

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