Downgrade dos Estados Unidos

Começando pelo princípio, normalmente quem tem restrição de rating para investir necessita que o rating seja de 2 das 3 grandes agências para ser válido. Com isso os US tiveram 2 das 3 agências tirando o status de AAA dele (a primeira foi a S&P em 2011). Oficialmente US não são mais um país AAA. Abaixo a foto dos ratings das principais economias:

Com isso devemos esperar sim alguma pressão de vendas de ativos americanos, em especial treasuries. Tem investidor que terá que se adequar e vai vender ou reduzir sua exposição em US.
Porém com o advento em 2011, muita gente reescreveu a regra para deixar de ser AAA e ser somente government bonds, como por exemplo as regras de Basel 3 para adequação de capital dos bancos. Vide abaixo:

Com isso, teremos dois grupos de investidores reagindo ao downgrade nos próximos dias e semanas:
1) Fundos, Institucionais, Family Offices, que podem usar o downgrade da Fitch como um wake-up
call para os fundamentos fiscais americanos, que estão sim se deteriorando. Mais
abaixo vemos que a relação dívida/pib está em 120% e crescendo, um número que
já passou o esforço de guerra nos anos 40. E estamos rodando com um déficit
nominal de 8% do PIB em 2023, já sem pandemia. O fato é que hoje tanto democratas
quanto republicanos não tem apreço pela disciplina fiscal, e gastam sem dó. Um argumento é
que eles podem, pois emitem a moeda em que se endividam. Claro, é melhor do que ser uma
Argentina, porém tudo tem limite e o evento nos lembra que podemos estar chegando perto
dele.
2) Instituições que NECESSITAM vender pelo mandato de “rating mínimo”. Como já vimos antes,
esse grupo existe, porém é menor hoje do que em 2011. Afinal a turma deu uma
ajeitada nas regras já prevendo esse dia.


Como os mercados reagiram em 2011?
A Bolsa teve uma boa queda e depois ficou meses de lado; o dólar inicialmente ficou de lado, depois se valorizou; o yield dos títulos de 10 anos caiu e o ouro subiu inicialmente, depois devolveu a alta.
Não significa que teremos as mesmas reações hoje em dia, que temos uma inflação ainda alta, um PIB ainda resiliente, desemprego nas mínimas e preços de ativos esticados, para sermos benevolentes. O fato é que esse downgrade pegou o mercado em uma posição técnica ruim, com muitas apostas positivas feitas recentemente, a alavancagem voltando a subir, portfólios desprotegidos (demanda por put’s está bem baixa).
Na TAG cremos em movimentos menos intensos do que 2011, porém também na direção de uma redução de risco por parte do mercado.



Sobre o colunista
André Leite possui mais de 25 anos de experiência como portfolio manager e trader para diversos bancos e assets. Passou por instituições como Banco Bozano, Simonsen, Banco Modal, Banco Santander, Maxima Asset Management, J. Safra Asset Management, Kairós Capital e Torana Investimentos. Hoje é Chief of Investment Officer da TAG Investimentos. Já recebeu prêmios como “Best Hedge Fund Manager – 1998” (Revista Exame e Lipper) e “Best Fixed Income Portfolio Manager – 2002” (Revista Investidor Institucional). É formado em Engenharia Elétrica pela UFRJ e possui MBA pela University of Michigan Business School.