Consultorias avançam sobre assessorias e invertem padrão do setor de wealth
Em cinco dos dez primeiros meses de 2025, os pedidos de registro de consultorias de investimentos superaram os de assessorias, inversão que aponta ruptura estrutural no setor. O dado consta do relatório semestral da Veritas, que consolida informações da CVM sobre o mercado de consultores de investimentos até outubro de 2025.
O fenômeno não surge isolado. De acordo com o conteúdo apresentado por Filipe Medeiros (CEO da AAWZ) no ABCVM Summit 2025, três forças convergiram para criar o ciclo mais transformador desde 2001: a migração para o modelo de fee fixo, que substitui comissionamento por transparência e alinhamento com o cliente; a consolidação da consultoria CVM como estrutura baseada em governança e independência real; e a entrada dos bancos no modelo B2B, que profissionaliza operações e amplia o acesso a produtos institucionais. Essas mudanças atualizam o mercado existente, elevando padrões de atendimento e exigindo propostas de valor mais sólidas.
O impacto dessas forças já aparece nos números. O mercado conta hoje com 2.082 consultores pessoa física com registro ativo, acréscimo de 236 profissionais apenas entre junho e outubro deste ano. No universo das pessoas jurídicas, são 481 consultorias em operação, alta líquida de 61 empresas no mesmo intervalo.
Mais revelador que os números absolutos, porém, é o ritmo: a média mensal de novos registros subiu de 43,7 em 2024 para 55,7 em 2025, aceleração de 28% que se distribui de forma estável ao longo do ano. Todos os meses de 2025 registraram mais de 40 novos pedidos, com picos superiores aos do ano anterior.
A análise do ano de início das atividades expõe a natureza estrutural da mudança: a maior parte dos consultores e consultorias atualmente operantes começou nos últimos três anos, concentração que supera todo o histórico anterior da profissão. Não por acaso, essa janela coincide com o salto do wealth independente de 5% do mercado, em 2021, para os atuais 20% a 25%. O movimento se acelera justamente quando as três forças mencionadas ganham tração simultânea.
A equiparação entre consultorias e assessorias nos registros de pessoas jurídicas materializa essa virada. No acumulado de 2025, foram protocolados 146 pedidos de assessorias contra 136 de consultorias, diferença de apenas dez empresas que contrasta com a ampla dominância histórica do modelo de assessoria.
A leitura mês a mês confirma que as consultorias superaram as assessorias em metade dos períodos analisados, algo impensável anos atrás. O modelo consultivo deixou de ser nicho para se tornar alternativa concreta, sustentada por proposta de valor diferenciada e pela entrada de instituições financeiras que passam a operar via parcerias B2B.
Redistribuição geográfica altera mapa de atuação
Outro dado relevante emerge da distribuição geográfica: Porto Alegre ultrapassou Belo Horizonte e assumiu a terceira posição entre as cidades com mais consultorias no país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. O Rio Grande do Sul, inclusive, supera Minas Gerais em número total de consultorias ativas — inversão notável quando se considera o tamanho econômico e populacional dos estados.
Esse reposicionamento regional sugere que a atividade se descola de variáveis tradicionais como PIB ou densidade demográfica, respondendo também a fatores como cultura empreendedora, presença de hubs de profissionais independentes e disposição para estruturas menos verticalizadas.
Cancelamentos estabilizam e sinalizam maturação
A estabilidade dos cancelamentos reforça a hipótese de amadurecimento. Apesar do crescimento absoluto nos pedidos de desligamento — 75 novos cancelamentos no período —, a proporção entre consultores ativos e desistências caiu ano a ano.
O mercado absorve novos entrantes com maior eficiência do que no passado, quando a falta de processos consolidados e suporte operacional levava parte dos profissionais a desistir nos primeiros meses. A profissionalização impulsionada pela entrada dos bancos no B2B e pela exigência de governança das consultorias CVM cria ambientes mais preparados para sustentar operações recorrentes.
Mas o ciclo atual não se resume a números de registro. A mudança mais profunda está no perfil da carreira. O modelo consultivo exige diagnóstico real de carteira, proposta de valor transparente, planejamento estruturado e capacidade técnica para sustentar margens sem depender exclusivamente de captação ou comissionamento.
Especialistas presentes no ABCVM Summit 2025 afirmaram que a recorrência substitui a volatilidade, e a governança passa a definir quem escala e quem estagna. Profissionais que entenderem essa lógica ganham previsibilidade, valuation e espaço para crescer; os que não entenderem tendem a reviver o padrão dos ciclos anteriores.
Ciclo histórico projeta paridade até 2030
Historicamente, o setor evolui em ciclos de cinco anos, e cada marco — 2001, 2006, 2011, 2017, 2020 — elevou exigências sobre operações, produtos e atendimento. O ciclo 2025-2030 não foge à regra.
A projeção para os próximos anos indica que as consultorias podem atingir aproximadamente 50% do mercado, patamar equivalente ao tamanho atual das assessorias. Não se trata de extinguir modelos anteriores, mas de ampliar o leque de atuação e redistribuir participação de mercado conforme as demandas por transparência, fee fixo e independência se consolidam.
Acesse o relatório completo.
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