CFP Board dos EUA alerta para a crise na profissão pela inversão etária
Kevin Keller, CEO do CFP Board estadunidense, esteve no Brasil para o Congresso Internacional Planejar 2024 e afirmou que a profissão de planejador financeiro está em crise em seu país. Em sua fala, durante o evento que é voltado para profissionais CFP, ele analisou como deve ser o planejamento financeiro no futuro para que essa crise seja contornada.
Embora a análise Keller tenha focado no cenário norte-americano, o mercado brasileiro tem muito a aprender com a experiência desse ambiente mais desenvolvido. As lições de lá podem ajudar a fortalecer o planejamento financeiro por aqui e prevenir crises futuras.
A inversão na pirâmide etária faz a aposentadoria virar crise
O principal catalisador da crise descrita por Keller é a inversão da pirâmide etária entre os planejadores financeiros. Segundo o CEO, nos Estados Unidos há mais profissionais CFP com mais de 70 anos do que abaixo dos 30.
A falta de novos profissionais compromete a renovação da força de trabalho, aumentando o risco de escassez de planejadores financeiros no futuro.
Novas necessidades dos clientes exigem adaptação
Keller também analisou as mudanças nas necessidades dos clientes. As novas demandas exigem uma adaptação dos planejadores financeiros para se manterem relevantes no mercado dos EUA.
De acordo com o presidente do CFP Board, três quartos dos profissionais de planejamento dos EUA são homens e mais de 80% deles são brancos. “A demografia dos planejadores financeiros não bate com a demografia da população estadunidense”, afirmou.
Os clientes estão se tornando cada vez mais multiculturais e as mulheres assumem um papel cada vez mais decisivo nas finanças, conforme Keller.
Keller ressaltou que os clientes estão se tornando cada vez mais multiculturais e que as mulheres assumem um papel decisivo nas finanças. Quer dizer, o descompasso é claro: enquanto o público alvo se diversifica, o perfil de profissionais permanece estagnado.
Para além disso, a transferência geracional de riqueza também foi mencionada.
Com base no relatório “Family Wealth Transfer 2024”, elaborado pela Altrata, nos próximos 10 anos, mais de 1,2 milhão de indivíduos com patrimônio superior a US$ 5 milhões devem transferir cerca de US$ 31 trilhões nos Estados Unidos.
Esse valor representa uma transferência massiva de riqueza entre gerações, sendo a Geração X a principal beneficiada. Grande parte dessa transferência ocorrerá ainda em vida, o que exige um planejamento sucessório adequado.
Em suma, sobretudo a Geração X e os Millenials terão o poder nas mãos. “A necessidade dos clientes do futuro vai ser diferente da necessidade dos clientes de hoje”, analisou Keller, indicando que os novos tipos de valores e gastos exigirão relacionamentos diferentes.
Mudanças sociais impactam o cenário e demandam cautela
O palestrante também elencou a volatilidade, a incerteza, a ansiedade e a ambiguidade como fatores relevantes que estão transformando a nossa sociedade atual.
A volatilidade se manifesta nas rápidas mudanças dos mercados e da política, exigindo agilidade das organizações. A incerteza, por sua vez, gera um clima de insegurança, impactando decisões financeiras e estratégicas. Essa situação provoca ansiedade, uma resposta emocional natural à instabilidade, que pode levar à paralisia nas decisões.
Além disso, a ambiguidade, com informações contraditórias e desinformação, dificulta a tomada de decisões informadas. Esses fatores demandam que os profissionais de planejamento financeiro se adaptem e desenvolvam competências para oferecer clareza e orientação em um ambiente complexo e dinâmico.
Planos para atrair novos profissionais e estabelecer a indústria de planejamento financeiro
Embora essencial, a profissão de planejador financeiro ainda é jovem e pouco estabelecida, ressaltou Keller. Muitos jovens optam por carreiras mais tradicionais, como medicina e arquitetura, limitando assim a renovação do mercado.
Para enfrentar essa realidade e garantir um fluxo robusto de profissionais qualificados, o CFP Board nos Estados Unidos está implementando campanhas para promover a carreira de planejador financeiro entre universitários. As iniciativas incluem visitas a escolas de ensino médio e instituições de ensino superior, onde o conselho tem estabelecido relações com 240 faculdades e universidades.
No entanto, Keller enfatizou que isso ainda não é suficiente, e a instituição está intensificando esforços para fortalecer essas conexões e atrair novos talentos, garantindo assim a perenidade da profissão.
Para Keller, a evolução da profissão de planejador financeiro depende da ação proativa e da adaptação às novas demandas do mercado. “O futuro não dá pra prever, mas futuros podem ser criados”, sintetizou.
O cenário dos EUA traz lições importantes para o mercado local. Ao aprender com os desafios estadunidenses, o Brasil pode implementar estratégias para atrair talentos e se ajustar às demandas de uma clientela multicultural. Essa proatividade é fundamental para fortalecer a indústria de planejamento financeiro no país e prevenir crises futuras.
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