A era da automação com IA nas assessorias de investimentos
A automação está cada vez mais integrada aos escritórios de assessoria de investimentos com o objetivo de proporcionar ganhos em eficiência e maior capacidade de escala. Líderes especialistas em tecnologia se reuniram no ABAI Inova e debateram as melhores práticas para esse processo.
No evento organizado pela Associação Brasileira de Assessores de Investimento, a ABAI, foi consenso que a implementação de automações ainda enfrenta desafios, como a necessidade de treinar funcionários para lidar com as novas ferramentas e o custo inicial da adoção de tecnologias.
Alison Paese, COO da Blue3 Investimentos, destacou a importância de uma cultura organizacional bem estabelecida antes da implementação de qualquer tecnologia. “Não adianta ter a ferramenta se não houver cultura de uso. O trabalho tem que existir; a ferramenta vem para melhorar esse processo”, afirmou.
Sem a devida integração e preparo das equipes, novas aplicações de tecnologias em empresas tendem a não atingir seu pleno potencial. Isso se torna um gargalo num contexto onde a produtividade tem relação direta com o valuation e o desempenho geral das empresas.
Outro ponto relevante é a necessidade de integrar tecnologia e as demandas do dia a dia dos assessores. “Um dos maiores desafios é entender qual é a necessidade do assessor e traduzir isso para tecnologia”, comentou Gustavo Moraes, IT Head na Monte Bravo.
Ele reforçou que a antiga separação entre tecnologia e negócios já não faz sentido: “Estamos ali entendendo qual é a dor principal no dia a dia”, declarou Moraes.
Rodrigo Gianotto, CTO do Grupo Primo, também corroborou com a necessidade de integração no negócio. Ele afirmou que as áreas de pessoas e de tecnologia devem estar no conselho da empresa ao invés de serem áreas que só são demandadas.
Além disso, o CTO declarou que para “jogar o jogo grande” é preciso ter uma pessoa sênior de tecnologia no time e mencionou a distribuição de equity como maneira de manter esses profissionais engajados e motivados.
Paese completou dizendo que é importante desmistificar a percepção de que os profissionais sêniores de tecnologia têm a capacidade de prever o futuro. A área é uma ciência exata, “mas não tenha a expectativa de bola de cristal. Ele [o profissional] vai ter que testar e errar muito. Se o alinhamento estiver certo, o ‘testar e errar’ sempre é pra cima”.
A cultura empresarial precisa dar espaço para que os profissionais possam experimentar e falhar sem medo de represálias. Promover a autonomia é essencial para acelerar a inovação, pois são esses testes que conduzem ao aprimoramento contínuo e ao sucesso em longo prazo.
A inteligência artificial e o assessor de investimentos do futuro
Gianotto destacou que o futuro do profissional de investimentos estará profundamente ligado à capacidade de adaptação às novas tecnologias. Ele vê o papel do assessor de investimentos evoluindo para algo mais próximo de um psicólogo, focado em compreender o comportamento dos clientes e fornecer insights mais subjetivos, enquanto as atividades mais operacionais e repetitivas, como o processo de SDR (Sales Development Representative), serão completamente automatizadas.
O CTO afirmou também que a era do copiloto de IA, onde humanos ainda controlam boa parte dos processos, está dando lugar a uma nova fase, na qual agentes conversacionais com capacidades humanas já são uma realidade. “Isso é agora, não é o futuro”, ressaltou.
Aqueles que conseguirem dominar a inteligência artificial com uma visão sistêmica serão altamente produtivos, segundo Gianotto. O domínio dessas ferramentas permitirá que o profissional de investimentos maximize sua eficiência, delegando atividades rotineiras à IA e focando na construção de relacionamentos mais profundos e estratégicos com os clientes.
Os especialistas destacaram que, para a automação com IA funcionar de maneira eficaz, a qualidade dos dados é fundamental. Sistemas de IA dependem de grandes volumes de informações estruturadas e precisas para aprender e tomar decisões acertadas.
Empresas que investem em dados confiáveis e bem organizados conseguem otimizar seus processos de automação, permitindo que a IA identifique padrões, antecipe tendências e personalize interações, gerando resultados mais robustos e alinhados às necessidades dos clientes.
Os três executivos compartilham da visão de que a IA substituirá tarefas administrativas, mas não cargos inteiros. Para Paese, por exemplo, o assessor que mantém uma agenda de acompanhamento, guiando o cliente e estando presente em sua jornada, será insubstituível. A presença humana em papéis de confiança e orientação ainda será um diferencial que a tecnologia não conseguirá replicar, afirmou.
Paese salientou também que, embora a assessoria de investimentos tenha crescido significativamente nos últimos anos, o setor ainda não conseguiu “furar a bolha”. Para ele, a única forma de uma assessoria ou corretora escalar no Brasil é por meio da tecnologia.
“Na minha visão, não há a menor chance de uma boutique escalar sem esse recurso”, afirmou, sublinhando a necessidade de digitalização para alcançar um público mais amplo e ganhar relevância no mercado.
O COO da Blue3 Investimentos afirmou que o primeiro passo para essa escalabilidade é ter a “clareza máxima” dos objetivos e processos. Ele acredita que, com essa clareza, os próximos passos se tornam mais evidentes. Além disso, Paese vê na geração de demanda por meio de conteúdo uma peça fundamental para o crescimento sustentável.
Em suma, a tendência é que os escritórios de assessoria sigam aumentando sua automação, principalmente em processos repetitivos, liberando tempo para atividades que exigem mais interação humana e análise crítica, como a construção de portfólios e o relacionamento com o cliente.
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