49% dos brasileiros dizem que contratariam planejador financeiro, mas só 2% o fizeram
A primeira edição da pesquisa “O planejamento financeiro do brasileiro: da consciência à prática”, realizada pela Planejar em parceria com o Datafolha, expõe um descompasso fundamental: 59% dos brasileiros se consideram planejados financeiramente, mas a adoção dos pilares básicos do planejamento estruturado permanece baixa. Apenas 15% dos não aposentados possuem previdência privada, 43% não têm reserva de emergência e somente 7% formalizaram planejamento sucessório.
O levantamento, conduzido entre julho e agosto com 2.000 pessoas das classes A, B e C, foi além da autopercepção. As perguntas buscaram identificar se os brasileiros aplicam na prática os fundamentos estabelecidos pelo FPSB para a certificação CFP®: administração do orçamento familiar, investimentos, aposentadoria, seguros, gestão de tributos e sucessão patrimonial. A conclusão é que a maioria confunde controle mensal de despesas com planejamento financeiro completo.
Controlar não é planejar
Entre os que se declaram planejados, 92% afirmam planejar as despesas mensais sempre ou frequentemente. O método preferido continua sendo o caderno ou anotações em papel (45%), seguido por planilhas ou aplicativos (32%). A organização do fluxo de caixa mensal existe — mas para por aí.
Quando se avança para os demais pilares do planejamento, os números despencam. Na população geral, apenas 15% dos não aposentados possuem previdência privada. A reserva de emergência, outro fundamento básico, está ausente em 43% dos lares. Mesmo entre aqueles que se autodeclaram muito ou extremamente planejados, parcela significativa não construiu esse colchão.
Ana Leoni, CEO da Planejar, resume a questão: “Planejamento financeiro é um tema complexo. Há quem acredite que faz, mas, na prática, não cumpre os requisitos de um planejamento completo […] O próprio conceito não é claro para a imensa maioria da população”.
Os pilares ausentes
A previdência complementar ilustra bem o problema. Entre os não aposentados, 85% não possuem nenhum plano privado. Quando questionados sobre de onde virá a renda na aposentadoria, 64% imaginam depender do INSS — expectativa que contrasta com os 82% dos aposentados atuais que de fato vivem exclusivamente da previdência pública.
Os mais jovens demonstram consciência do problema sem resolvê-lo. Na faixa de 18 a 24 anos, 46% não acreditam que o INSS será sua fonte de renda no futuro, mas apenas 9% contrataram previdência privada. A lacuna entre diagnóstico e ação é evidente.
No planejamento sucessório, a situação se repete. Embora 57% afirmem já ter pensado em como distribuir seus bens, apenas 7% formalizaram testamento ou plano de sucessão. Entre os que possuem patrimônio significativo, 42% orientaram familiares sobre como acessar bens após a morte — um índice que sobe para 64% na classe A e 50% na classe B, mas despenca para 36% na classe C.
O dado sobre custos de inventário chama atenção: apenas 9% tomaram providências para garantir recursos para esse tipo de despesa, e 33% procurariam investimentos que não passem por inventário para transferência aos herdeiros. A maioria (42%) não soube opinar sobre o tema.
Seguros: produto compreendido, pouco contratado
A pesquisa identifica que 89% dos brasileiros compreendem como funcionam os seguros. Não há barreira de entendimento. A questão é priorização. Apenas 57% possuem alguma proteção contratada, com clara concentração nos estratos superiores: na classe A, 80% têm plano de saúde; na classe C, 24%.
Seguros de vida ou contra acidentes aparecem em 18% dos lares. Seguros residenciais, em 14%. A preferência por pagamentos recorrentes menores existe — 58% preferem essa modalidade —, mas não se converte em adesão generalizada aos produtos.
Planejador financeiro: 49% considerariam contratar, mas apenas 2% o fizeram
A descoberta mais relevante para profissionais da área está nos números sobre busca de orientação financeira. Atualmente, 57% dos brasileiros não contam com ajuda de terceiros em suas finanças. Desses, 34% preferem se informar sozinhos via internet ou cursos, e 23% nunca pensaram no assunto.
Entre os 43% que buscam apoio, a maioria recorre a parentes e amigos (32%), seguidos por profissionais bancários (11%). Planejadores financeiros aparecem em apenas 6% das menções. Quando se isola quem já contratou um planejador, o índice cai para 2% da população.
O dado seguinte expõe a oportunidade: 49% considerariam contratar um planejador financeiro. As motivações são pragmáticas: 24% para organizar a vida financeira, 17% para esclarecer dúvidas, 12% para resolver problemas burocráticos e 11% para controlar gastos. Não se trata de demanda por sofisticação patrimonial — é o básico mal estruturado.
O perfil mais propenso à contratação concentra-se na classe A (72% considerariam), classe B (55%) e faixa etária de 18 a 34 anos (55%). Na classe C, a disposição cai para 45%, e entre maiores de 61 anos, para 35%.
Entre os que não consideram contratar, as razões principais são: preferência por fazer sozinho (20%), não ver necessidade (16%) e falta de recursos (16%). Há também falta de confiança (4%), desconhecimento dos valores (4%) e ceticismo sobre os benefícios (4%).
Motivações para buscar ajuda
Os 43% que já buscam algum tipo de orientação financeira o fazem por duas razões principais: problemas com dinheiro (42%) e desejo de ter mais conhecimento (40%). Outros 11% buscam por influência de amigos ou parentes, e 3% por necessidade — sem especificar qual.
Os mais jovens lideram a busca: 58% da faixa de 18 a 24 anos procuram ajuda. Nas classes A e B, os índices são respectivamente 64% e 46%. Na classe C, 47% buscam orientação — um índice superior ao que se poderia esperar, sinalizando demanda reprimida também nos estratos de renda mais baixa.
O cliente com planejamento formal
A minoria que já contratou planejador financeiro (2% da amostra, ou 41 pessoas) apresenta perfil específico. As razões que os levaram à contratação foram: busca por conhecimento (43%), desejo de tranquilidade e segurança (12%) e necessidade de ajuda na vida financeira (11%). Metade não soube explicar as razões — um dado que pode refletir tanto a pequenez da amostra quanto certa confusão sobre o que de fato motivou a decisão.
Recortes por gênero e classe
As mulheres aparecem como público prioritário: 51% se declaram insatisfeitas com a condição financeira, 62% dos que não têm reserva de emergência são do sexo feminino, e apenas 53% se consideram planejadas (contra 65% dos homens). Na classe A, 82% se veem como planejados; na classe C, 53%.
A população acima de 61 anos é a que mais se considera planejada (70%), mas também a menos propensa a contratar planejador (35% considerariam). O grupo mais promissor para o setor está entre 18 e 34 anos: 55% considerariam contratar, reconhecem limitações no próprio conhecimento e demonstram disposição para buscar orientação profissional.
Investimentos e postura de risco
A pesquisa mostra que 76% possuem algum investimento ou imóvel próprio. Caderneta de poupança lidera (57%), seguida por investimentos em renda fixa (30%) e renda variável (16%). Criptomoedas aparecem em 14% das carteiras.
A exposição a risco é claramente segmentada por classe: 50% da classe A têm investimentos em renda variável, contra 23% da classe B e 10% da classe C. Quanto maior a idade ou a classe social, maior a posse de ativos — índice que chega a 82% entre maiores de 61 anos e 95% na classe A.
A pesquisa da Planejar oferece, pela primeira vez com abrangência nacional, um mapeamento preciso da distância entre o que os brasileiros acreditam fazer e o que efetivamente praticam em termos de planejamento financeiro. Para profissionais do setor, os dados confirmam empiricamente o que se observa no atendimento: há mercado vasto, diversificado e consciente da própria limitação — falta converter intenção em contratação.
Leia aqui a pesquisa na íntegra.
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